Lamborghini Murciélago LP 670-4 Super Veloce

04/03/2010 19:30

Quando foi apresentado ao mundo, em 2001, o Murciélago surgia cercado de expectativas e credenciais: sucessor do Diablo, era o primeiro modelo da Lamborghini criado sob o comando da Audi e levava o nome do lendário touro que, há distantes 130 anos, foi poupado por sua coragem e resistência após levar mais de 24 ferroadas em uma tourada na Espanha. O valente animal daria inicio à renomada linhagem Miura, cujo nome foi utilizado pela montadora de SantAgata Bolognese no vanguardista modelo de 1966, o primeiro a utilizar o motor V12 posicionado a 60°. A configuração foi transmitida 25 anos mais tarde para o Diablo e, posteriormente, apareceu no Murciélago para dar continuidade à saga.

Lançado inicialmente com motorização 6.2 litros V12 de 580 cavalos, o modelo ganhou em 2006 uma nova versão com um pequeno facelift e um aumento de potência para 6.5 litros e 640 cv. Na prática, pode parecer pouco. Mas para os puristas - para quem milésimos de segundos representam uma eternidade - foi um grande avanço. A Lamborghini sabe disso, e pensando nesse seleto grupo ela mostrou, no último Salão de Genebra, em março deste ano, aquele que classificou como o mais potente, leve e rápido superesportivo por ela já produzido: o Murciélago LP 670-4 Super Veloce, que, como o nome indica, traz 670 cavalos em seu V12 com localização central. 

Resolvemos testá-lo (a Revista AutoMotor und Sport, parceira da CARRO na Alemanha, levou a fera ao campo de provas) não apenas na pista, mas também em situações mais triviais, como, por exemplo, em vias urbanas. Assim que pegamos o carro percebemos que a tarefa não seria fácil.  Na hora de trafegar pelas ruas, é necessário cuidado, pois mesmo com o mecanismo hidráulico que eleva o pára-choque dianteiro em até 45 mm, a distância do carro em relação ao solo é baixa.

E danificar o modelo, limitado a 350 exemplares, seria uma heresia. Principalmente depois do longo processo de redução de peso pelo qual o SV passou: além das mudanças no comando de válvulas e no sistema de admissão, que elevaram em 30 cavalos a potência do motor, a montadora italiana fez largo uso de componentes em aço e fibra de carbono na carroceria e no interior, o que resultou em 100 kg a menos no peso total do carro. Dessa forma, o bólido contabiliza apenas 1 765 kg, o que representa um relação peso/potência de 2,6 kg/cv (menor que a da Ferrari 599 GTB, modelo mais potente da marca italiana, que é de 2,7 kg/ cv).

Externamente, a fibra de carbono está presente no redesenhado para-choque dianteiro, que traz tomadas de ar ampliadas e novos spoiler, nas entradas de ar laterais, na traseira com duplo difusor, escapamento central de saída única e no enorme aerofólio, que, apesar de reduzir a velocidade máxima de 342 km/h para 337 km/h, aumenta a downforce (força que pressiona o carro contra o solo) do modelo e melhora a estabilidade em curvas de alta velocidade.

À primeira vista, os pneus Pirelli PZero Corsa e as três aberturas hexagonais de policarbonato transparente, localizadas na tampa do motor, brilham aos olhos do condutor e são um convite irrecusável para adentrar o carro.

Dessa forma, o motorista não pensa duas vezes em provocar os 670 cavalos aparentes sob a tampa. Uma vez que a cavalaria é acionada por meio do acelerador, os 6,5 litros se enchem com as 24 válvulas de admissão e 12 pistões. Nervoso e imponente, logo notamos que o SV é para ser apreciado sem moderação. Nem poderia ser diferente, já que ele bebeu nada menos que 26 litros de combustível durante os nossos testes.

Touro indomável

Nos olhares dos transeuntes e dos outros motoristas, uma mistura de curiosidade e admiração. A reação é sempre a mesma: surpresa seguida de paralisação. Eles não conseguem desviar a atenção. Olham fixamente, permanecem estáticos. Ao volante, o bólido não se deixa vencer pela arrogância. Ele espera ansiosamente pelo melhor momento para pavonear suas virtudes. As portas com abertura no estilo tesoura e a carroceria com dois metros de largura avisam com veemência: afaste-se das guias!

Internamente, a ergonomia representa submissão. Logo ao sentar no cockpit, você já percebe que ele é o chefe. Você, nada mais que o súdito. Com uma posição de dirigir pouco amistosa e acabamento rústico, os passageiros viajam em posição assimétrica. Aqui, o conforto deixa a desejar. Mas esse não é o único problema: as pessoas tendem a dirigir para onde direcionam seus olhares. No caso de dúvidas, elas vão em direção ao Murciélago. Concentração e reação rápida são virtudes desejáveis em tais circunstâncias. Por sorte, o Murciélago pode ser considerado um verdadeiro mestre das fugas, sendo capaz de desaparecer em poucos segundos (0-100 km/h em 3s3) de qualquer situação hostil. Fim da prova para Valentino Balboni, responsável por testar o superesportivo. “Quem dirige um Lamborghini nunca será ultrapassado. Se fosse, seria com a própria condescendência”, comenta o experiente piloto de testes da marca sobre a experiência. 

Mas o Murciélago não quer ficar para trás, e não se esqueça de quem manda. Além de utilizada na carroceria, a fibra de carbono aparece também no interior do carro, ao lado da Alcântara que prevalece no revestimento dos assentos, painel e volante, substituindo o usual couro (outra solução para redução de peso). Caso o motorista queira, é possível retirar o sistema de entretenimento com navegador e equipamento de som, o que resulta em 34 kg a menos. Uma conta bastante interessante, que só não é melhor devido à velocidade máxima, que quando aferida na versão com o aerofólio traseiro maior, fica 3 km/h abaixo da versão anterior do modelo, a LP 640-4.

Na hora de testar o potencial de frenagem, os discos de cerâmica atuam de forma imediata, segura e consistente. São beneficiados, é verdade, pela ótima distribuição de peso nas quatro rodas, principalmente na entrada e saída das curvas.

Contudo, nada é perfeito: em uma curva mais fechada, a tração integral com motorização central ameaça sair de traseira quando levamos o carro ao limite. E isso é tão perigoso quanto entrar em uma arena de tourada com um pano vermelho à mão e um furioso touro à frente. O jeito é substituir a falta do ESP com reações rápidas e certeiras - favorecidas pela direção rígida, justa e acertada -, como um legítimo toureiro.

Nas saídas de frente com os pneus ainda frios, a tração implacável segue o rastro da borracha quente – seja no circuito com obstáculos, na pista ou na rua. Quem segurar o volante de Alcantara e pisar no acelerador será agraciado com um festival de força G. Da mesma forma, a sensação de frear a máquina de 1,8 tonelada na entrada das curvas é tão intensa quanto a saída das mesmas em alta velocidade. O desempenho extra do motor V12 não deixa dúvida de sua superioridade em relação ao irmão menor LP 640.

Até aproximadamente 5 000 rpm, a potência do motor ainda não está totalmente liberada, mas o rugido já aparece com imponência ao fundo. Seguindo em direção a 8 000 rpm, a mesma explode em ira e transforma-se em uma fera selvagem, intocável, sempre à espera da próxima marcha.

“Ele é mais intenso e indômito que qualquer outro automóvel existente”, declarou Stephan Winkelmann, presidente e CEO da Lamborghini, sobre o modelo. De fato, o novo “morcego” nasce com a rapidez e a leveza do mamífero voador, sem esquecer, mais do que nunca, do comportamento indomável daquele que lhe serviu de inspiração.

Fonte: Carro Online

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